Atenuação por Monitoramento
Não, você leu corretamente, não há
um erro no título da matéria. Atenuação
natural monitorada (ANM) tem sido a técnica mais utilizada para
remediação de locais contaminados com compostos degradáveis.
Claro, não há dúvida alguma que monitoramento em
si não consiste em técnica de remediação,
e que ele serve somente para se confirmar o que a natureza faz com a
contaminação. Dizem que, na verdade, a técnica
mais utilizada para remediação é a atenuação
natural não monitorada... Mas isso é pura maledicência!
Todos sabemos que as contaminações de solo e água
subterrânea são estudadas e acompanhadas com muita atenção.
Embora a ANM seja uma técnica simples e barata (que justifica
sua ampla utilização), alguns erros são possíveis
quando de sua utilização. É muito comum que os
hidrogeólogos, ao se depararem com uma contaminação,
fiquem concentrados nas características da pluma e no comportamento
dos contaminantes. Entretanto, a hidráulica do aqüífero
é de suma importância na ANM. Em geral, a fonte da despreocupação
em relação à hidráulica se deve ao fato
de que as plumas de orgânicos apresentam concentrações
muito baixas, e podem ser consideradas como tendo a mesma densidade
da água, sem detrimento de resultados. E também à
limitação de recursos na realização dos
trabalhos de caracterização, com apresentação
do problema sempre em planta, sem muita preocupação com
o comportamento dos componentes verticais de fluxo. É neste ponto
que reside um grande risco.
Em áreas de recarga, a componente vertical de fluxo é
sempre considerável. Este fluxo descendente pode fazer com que
a pluma mova-se lentamente para uma profundidade maior, afastando-se
gradativamente do nível d'água. Uma situação
distinta de uma zona de recarga, mas ainda com fluxo vertical, pode
ser a existência de uma camada mais permeável localizada
abaixo da camada estudada. As linhas de fluxo tenderiam a se direcionar
para esta camada inferior, levando consigo por advecção,
a pluma de contaminação. Desta forma, a utilização
de poços de monitoramento colocados próximos e pouco abaixo
do nível d'água, ainda que no eixo central da pluma, estariam
interceptando cada vez menos a pluma de contaminação,
como mostra a figura.
A pluma de contaminação não estaria sendo atenuada
da forma como os resultados das amostras coletadas nos respectivos poços
de monitoramento estariam indicando. Mas numa taxa muito inferior. haveria,
portanto, uma atenuação pelo monitoramento! Ou seja, uma
conclusão errônea.
Outra possibilidade, que pode parecer trivial, é a de que a pluma
de contaminação mude de direção e os poços
deixem de interceptá-la. Este fato, ainda que aparentemente fácil
de ser detectado, gerou dúvidas num dos experimentos mais famosos
do mundo, realizado na Base Militar de Borden, no Canadá. Naquele
local, a variação da direção de fluxo, não
prevista no mapeamento hidrogeológico ali realizado, provocava
um espalhamento da pluma muitíssimo superior ao que se poderia
prever pelos parâmetros de dispersão medidos para o local.
A conclusão, hoje óbvia, foi determinada depois de muita
discussão a respeito do comportamento da pluma. E isso entre
especialistas indiscutíveis. No caso de qualquer dúvida
quanto ao monitoramento, reconsiderem a hidrogeologia local. Caso contrário,
a certeza do hidrogeólogo, que já apresenta uma margem
de segurança enorme, ficará ainda mais incerta.
Olho: Embora a ANM seja uma técnica simples e barata
(que justifica sua ampla utilização), alguns erros são
possíveis quando de sua utilização
Dr. Everton de Oliveira
é professor-colaborador do Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo e sócio-diretor da HIDROPLAN
- Hidrogeologia e Planejamento Ambiental S/C Ltda.
(everton@hidroplan.com.br)
|